O Plano Nacional de Energia 2030 não cria nada novo, apenas replica o planejamento iniciado nos anos 1960, sob a égide da CANAMBRA, empresa consultora canadense, que projetou mais de 600 hidrelétricas para as nossas províncias hidrográficas até meados deste século.
Energia e desenvolvimento são dois termos indissociáveis, da mesma
forma, vida e energia. Informações quantitativas do uso de energia são um dos
indicadores sobre a qualidade de vida em uma Nação, região ou comunidade,
podendo reunir dados sobre a necessidade diária de calorias que o ser humano
deve consumir.
A quantidade mínima de energia para que uma pessoa adulta permaneça viva
é em torno de um mil kcal (1 kcal = 1 000
calorias), conforme uma dos nossos renomados cientistas e autoridade em
Matriz Energética, o Dr. José Goldemberg. Para uma pessoa envolvida nas suas
atividades normais, seu consumo cotidiano chega perto de dois mil kcal diárias.
Para o trabalhador que realiza um trabalho pesado, são necessárias quatro mil
kcal por dia. Ou, em escala macro, os indicadores de oferta e de demanda de
energia como suporte para a dinâmica social e econômica, traduzidos na Matriz
Energética Nacional, espelho da Política Energética Nacional em vigor.
Para as devidas comparações sobre os usos de energia utilizaremos como
unidade representativa dos mais diversos tipos de energia, a tEP (Tonelada Equivalente de Petróleo = é
aproximadamente equivalente à quantidade de calor existente em uma tonelada de
petróleo cru, que por convenção, é igual a 10 000 kcal.kg-1).
O consumo de Energia Primária (Produtos
energéticos providos pela natureza na sua forma direta, como o petróleo, gás
natural, carvão mineral, resíduos vegetais e animais, energia solar, eólica,
dentre outras) nos países industrializados chega, em média, a 5 tEP por
pessoa/ano, enquanto nos países em desenvolvimento este valor é de 0,85 tEP. No
Brasil, o consumo médio é de 1,2 tEP por pessoa/ano.
O consumo de mundial energia cresceu em média 2% ao ano no período
compreendido de 1960 a 1990, com acentuado contraste entre os crescimentos nos
países desenvolvidos e nos emergentes. O consumo nos países 30 países mais
ricos, integrantes da Organização de Cooperação e de Desenvolvimento
Económicos (OCDE) se estabilizou em 1990, no patamar de 4
000 milhões de tEP anuais, crescendo a partir deste marco, a uma taxa inferior
a 1% ao ano.
Na outra vertente, o
consumo tem crescido a taxas elevadas nos países emergentes, e vai continuar
crescendo pelas seguintes justificativas:
- Crescimento populacional em torno de 2% a.a., que no conjunto de todos os países emergentes, tem sido responsável por 50% do crescimento anual do consumo de energia.
- Crescimento econômico, que, na maioria dos países emergentes (exceto de alguns países africanos), é um resultado da independência política, integração na economia mundial e acesso à informação via rádio e televisão.
A associação destes dois fatores registrou um crescimento do consumo de
energia comercial de 4% a.a. nestes países. O consumo de energia nos países em
desenvolvimento continuará crescendo nestas próximas décadas, com projeções que
em 2020 o consumo ultrapassará o dos países da OCDE. Também, estudos projetam a
necessidade anual de 3 tEP por pessoa/ano como meta a ser atingida para que as
Nações emergentes ofereçam para a sociedade, os benefícios para que tenham uma
melhoria substancial em sua qualidade de vida. Se a Matriz Energética Mundial
de Fontes Primárias permanecerem inalterada, este fato se traduzirá na emissão
de poluentes, especificamente do CO2 oriundo da combustão de
combustíveis fósseis.
Este é um grande desafio aos planejadores estratégicos engessados por
paradigmas tímidos e conservadores, ancorados em uma Matriz Energética
ultrapassada e insustentável, e sem contabilizar os custos sociais.
Deteremos-nos desta vez, na Matriz de Energia Elétrica, alimentada
majoritariamente pela hidroeletricidade.
A Academia (as Universidades) acena para a necessidade premente de
investimentos em pesquisas que tornem os usos energéticos alternativos, mais
rentáveis, e ao mesmo tempo, a criação de novos conceitos e dimensionamentos
para o uso racional de energia de forma sustentável, pois, o Plano Nacional de
Energia 2030 não cria nada novo, apenas replica o planejamento iniciado nos
anos 1960, sob a égide da CANAMBRA, empresa consultora canadense, que projetou
mais de 600 hidrelétricas para as nossas províncias hidrográficas até meados
deste século.
Fontes energéticas alternativas estão disponíveis para comporem uma Matriz
de Energia Elétrica sob a ótica do desenvolvimento durável. Em primeiro lugar,
o Brasil ocupa uma grande área na Região Tropical, que recebe irradiação solar
durante uns 300 dias por ano. Esta posição geográfica é traduzida em potencial
bioenergético, disponível para todo o nosso planeta na ordem de 40.1012watts.
Saindo um pouco dos modelos tradicionais, o litoral maranhense tem uma
amplitude de maré em torno de sete metros. No litoral norte de Portugal esta
amplitude máxima chega a cinco metros e lá, se usa energia oriunda da
maremotriz, isto é, de uma usina que gera energia elétrica a partir do
movimento dos flutuadores causado pelas marés.
Outro fato importante são as áreas onde ocorre maior freqüência de
relâmpagos, energia que poderá ser armazenada na superfície. Nos anos 1960
cientistas ingleses realizavam estudos sobre tecnologias para armazenar este
gigantesco potencial energético e existem atualmente laboratórios com os mesmos
objetivos.
Aliada a uma nova Matriz de Energia Elétrica, os estrategistas devem,
paralelamente, implementar novos conceitos em infraestrutrura que reduzam
sistematicamente o consumo de energia. Desde a concepção de edificações
construídas no contexto do “edifício verde”, a fabricação de equipamentos com
baixo consumo e excelente desempenho. Uma política de transporte que priorize a
multimodalidade conforme os potenciais regionais, sem perder de vista o
conceito de “continentalidade”, onde
o planejamento e gestão requerem níveis de custo & benefício relacionados à
tonelada transportada, por quilômetro, por consumo e tipo de combustível.
O setor transporte coletivo urbano deve pautar as idéias dimensionadas
às escalas locais, com os mesmos conceitos regionais. Devemos restabelecer os
trilhos; identificar rotas entre pólos com maior densidade demográfica, ou de
serviços ou de indústrias; planificar moradias próximas aos locais de postos de
trabalho, etc. Projetar também o uso intermodal no transporte urbano, com
ênfase no conforto, na segurança e na qualidade, e com isso reduzir a frota de
veículos automotores individuais.
Abordei, desta vez, alguns aspectos
gerais que requer um planejamento estratégico no setor energético como capítulo
para um Plano de Metas governamental, instrumento fundamental de gestão pública
para os executivos dos três níveis, como proposta da Academia para racionalizar
o uso de energia e justificar a necessidade premente de uma nova Matriz de
Energia Elétrica para o Brasil e para o MERCOSUL.
- A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ou Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico (OCDE; OECD em inglês) é uma organização ingternacional dos países comprometidos com os princípios da democracia representativa e da economia de livre mercado. A sua sede fica em Paris, França.
Este artico (ensaio) teve como
fonte principal a seguinte obra: GOLDEMBERG, José; VILLANUEVA,
Luz Dondero; tradução André Koch. 2ª. Ed. Rev. São Paulo, SP: Editora
Universidade de São Paulo. 2003.
Publicado no mês de outubro de 2009 – Coluna CIÊNCIA
EM FOCO/JORNAL CAIÇARA “ON LINE”
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